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A Inteligência Artificial e a Educação: Transformação para os Novos Futuros
24/05/2023
DALL-E
DALL-E. Uma pintura a óleo impressionista de um robô ensinando a um aluno.
Disponível em: labs.openai.com
Acesso em 31 maio 2023.

O lançamento do Chat-GPT para o público em geral em novembro de 2022 trouxe à tona inúmeras discussões e, claro, na área da educação não poderia ser diferente. Esse programa trouxe um salto evolutivo à Inteligência Artificial (IA), pois trata-se de uma IA generativa, que cria textos a partir de uma quantidade massiva de dados retirados da Internet por meio de algoritmos de aprendizagem profunda, como se fosse um humano.

Embora o Chat GPT possa escrever um ensaio de cinco parágrafos sobre qualquer tópico, produzindo um texto perfeitamente bem escrito, mesmo que superficial e, geralmente previsível, muitas vezes é inferior à resposta de um estudante da nossa escola (fizemos a experiência com algumas turmas do Fundamental Anos Finais e Ensino Médio, com diversos componentes curriculares e professores).

O problema imediato para a educação é não ser possível saber quais partes dos textos seriam produções dos estudantes e quais partes seriam da IA. Orientar os alunos para citar o chatbot não resolve o problema, pois saber quais fontes um GPT usou não garante que sejam confiáveis, uma vez que a seleção dos conteúdos e fontes está baseada nas estatísticas de acesso e, muitas vezes, é apenas um remix de fontes. Além disso, os detectores GPT não são confiáveis, pois dada a natureza generativa da IA, todo texto é um novo texto, dessa forma é improvável que eles funcionem de maneira confiável.

O crescimento de IA generativa, após o lançamento do Chat GPT em todas as áreas da criação humana tais como imagens e música, nos apresenta um panorama futuro em que confiaremos cada vez mais em dispositivos digitais como nossas próteses cognitivas, não apenas para lembrar coisas, mas para criar conhecimento (na realidade o conhecimento que está disponível nas bases de dados das IA são todos criados por humanos e são apenas reaproveitados e remixados pela IA).

O Fórum Econômico Mundial divulgou seu relatório para 2023 a 2027 e trouxe como principais habilidades para os profissionais nos próximos cinco anos, na ordem de relevância: pensamento crítico; criatividade; resiliência; flexibilidade e agilidade; motivação e autoconsciência; curiosidade; aprendizado constante e letramento digital.

O relatório traz também dados alarmantes sobre o futuro do trabalho: haverá uma queda de 83 milhões de postos de trabalho e um crescimento de 69 milhões de novos postos, que vão demandar novos conhecimentos e habilidades, além de um número de 14 milhões de desempregados. Haverá, então, uma demanda para a educação capacitar os jovens para esse novo mercado, em que 34% de todas as tarefas terão o auxílio da IA. Dessa forma, precisamos transferir o foco de atenção da educação para o desenvolvimento do pensamento crítico e criativo.

Para cumprir seu papel de formar cidadãos críticos e conscientes em relação aos impactos que a IA pode trazer à sociedade, a Villare trabalha dentro de três contextos:

  1. Aprendizagem sobre a IA – Proporcionar aos estudantes a compreensão do funcionamento da IA incluindo o pensamento computacional no currículo, empoderando o estudante a desenvolver estratégias para resolver problemas utilizando a lógica computacional em todas as áreas do conhecimento;
  2. Aprendizagem com a IA – Aplicar o uso das diversas ferramentas de IA nos componentes curriculares;
  3. Aprendizagem para a IA – Os estudantes devem ser orientados a ter postura crítica sobre os vieses éticos, relacionados à apropriação de conteúdos sem a citação de fontes, que muitas vezes trazem vieses sexistas, homofóbicos e racistas, juntamente com outras ideologias e orientações sociais que atualmente são inaceitáveis; compreender que os modelos de IA mais poderosos do mundo são treinados com quantidades colossais de dados extraídos da Internet, que geralmente contêm material protegido por direitos autorais, já que a IA depende ilegalmente da propriedade intelectual de outras pessoas.

Riscos e benefícios da tecnologia são contradições constantes que demandam análise crítica, e com o advento da IA, precisamos estar alerta sobre como utilizam nossos dados pessoais, uma vez que a coleta massiva de dados pode implicar o aumento do controle e da vigilância, na restrição da autonomia dos indivíduos, na redução da liberdade de expressão. Como preparar nossos estudantes e filhos para este mundo repleto de mudanças vertiginosas e incertezas radicais? Um estudante que está hoje com 6 anos, no primeiro ano do Ensino Fundamental, estará formado na Educação Básica em 2034, com 17 anos. Quais serão suas demandas? Como devemos formá-lo para ser um cidadão ético e atuante? Quais habilidades serão exigidas para que tenha sucesso em sua vida além de flexibilidade mental e estabilidade emocional?

Estamos conscientes da nossa responsabilidade enquanto escola e consonantes com as novas demandas, priorizando a discussão e a reflexão constantes.

Solange Giardino
Coordenadora de Tecnologia Educacional

Fontes:

Harari, Y. N. 21 Lições para o século XXI. Cia das Letras. São Paulo, 2018.

Gonsales, P. Inteligência além da Artificial: Educar para o pensar complexo. ZIedições. São Paulo, 2022.

Artificial Intelingence Index Report 2023. Stanford University. Human Centered IA. Disponível em: <https://aiindex.stanford.edu/report/ Acesso em: 23 abr. 2023.

Defining Education 4.0: A Taxonomy for the future of learning. Disponível em: https://www.weforum.org/whitepapers/defining-education-4-0-a-taxonomy-for-the-future-of-learning Acesso em: 23 abr 2023.

The Future of Jobs Report 2020. World Economic Forum. Disponível em: https://www.weforum.org/reports/the-future-of-jobs-report-2020 Acesso em: 23 abr. 2023.